quarta-feira, 4 de abril de 2012

O emocional e a razão humana.

É POSSÍVEL RACIONALIZAR O QUE GUARDAMOS NO CORAÇÃO?


                                  Por FABRÍCIO DE FREITAS DE ASSIS Bel. em          Teologia pela Agrade e Graduando em letras pela UNEB.


O homem costuma supervalorizar os seus sentimentos colocando-os acima de tudo o que constitui o seu viver, por exemplo: Duas pessoas quando se gostam não querem se separar ao estarem juntas, não pensam no tempo que estar a passar, nas tarefas não realizadas, nas amizades que não são correspondidas, tudo isso é roubado pelo nosso “novo amor”. Todo homem é um ser carente em potencial (“por que todos pecaram e carecem da gloria de DEUS” Romanos 3:23). Tenho uma teoria que diz o seguinte:

 - Adão tinha conversas diárias com DEUS e isso lhe preenchia o interior, pois sua relação com Ele não só era de Criador e criatura, mas de Pai e filho. Realmente houve um momento em que ele precisou de alguém. Ao observar as demais criaturas percebeu que estava só. DEUS criou Eva. Era o que Adão precisava no momento, porém ele continuou a cumprir seus deveres. 

Porém, logo depois de conhecer o pecado, o quadro muda. A mulher é agora o único ser que ele se comunica. Já expulso do jardim ele não tinha contato com DEUS, daí pra frente toda fonte de amor e suprimento dos sentimentos são em EROS e não mais em AGAPÉ. Levando em conta que o primeiro é o amor incondicional da parte de DEUS PAI e CRIADOR, o outro por sua vez está baseado em nosso sentimentalismo em direção ao outro. Assim começou a carência efetiva: a desarmonia gerou pessoas dependentes umas as outras por conta da carência de DEUS. 

E sobre esse assunto João Calvino falou o seguinte: 

Que existe na mente humana, e na verdade por disposição natural, certo senso da divindade, consideramos como além de qualquer dúvida. Ora, para que ninguém se refugiasse no pretexto de ignorância, Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina realidade, da qual, renovando constantemente a lembrança, de quando em quando instila novas gotas, de sorte que, como todos à uma reconhecem que Deus existe e é seu Criador, são por seu próprio testemunho condenados, já que não só não lhe rendem o culto devido, mas ainda não consagram a vida a sua vontade (p.7,8)¹.

Muitas vezes o amor Eros é celebrado como um dom supremo. De fato Deus concedeu ao homem o direito de sentir prazer por meio da relação homem x mulher. Entretanto essa necessidade vem sido tomada como essencial e até mesmo acima de Deus, por causa da nossa percepção errônea acerca da vida, tornando por  vez, coisas secundárias em primárias, ao ponto de tomá-las com um bem sacramentado com devoção quase que ritualizada e religiosa:

Meu Bem-Querer²

Djavan

Meu bem querer
É segredo, é sagrado
Está sacramentado
Em meu coração
Meu bem querer
Tem um quê de pecado
Acariciado pela emoção

Meu bem querer
Meu encanto, estou sofrendo tanto
Amor, e o que é o sofrer
Para mim que estou
Jurado pra morrer de amor


. Calvino ainda diz:

Assim rui desmantelada essa frívola defesa com que muitos costumam acobertar a própria superstição. Pois pensam que é bastante nutrir mero zelo pela religião (católica romana), seja qual for sua natureza e por mais falsa que seja. Não levam em conta, porém, que a verdadeira religião deve ser conformada ao arbítrio de Deus como a uma norma perpétua: que Deus, em verdade, permanece sempre imutável em seu ser; que ele não é um espectro ou fantasma, que se transmuda ao talante de cada um. E pode-se ver meridianamente de quão enganosas aparências a superstição zomba de Deus enquanto intenta render-lhe preito aprazível. Pois, apegando-se quase exclusivamente àquelas coisas que Deus tem testificado não serem de seu interesse, a superstição ou tem com desdém ou então não rejeita dissimuladamente aquelas que ele prescreve e ensina que lhe são do agrado.
Portanto, a seus próprios delírios cultuam e adoram quantos a Deus alçam seus ritos inventados, pois de modo algum assim ousariam gracejar com Deus, se já antes não tivessem moldado um Deus congruente com os absurdos de suas ridicularias.

A religião que Calvino condenava era aquela que se baseava em sentimentos egocêntricos em detrimento da verdadeira relação de fé centrada em Deus. A partir disso minha dúvida é a seguinte: 

PORQUE ADÃO SEGUIU O AMOR DE SUA MULHER COMENDO DO FRUTO PROIBIDO AO INVÉS DE TOMAR PRA SI O CONSELHO AMOROSO DE SEU DEUS DE NÃO COMER DA ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL?

Para incitá-los direi que o amor se revela pelo conhecimento. Quem sabe não seria plano de Deus revela-se aos homens através de suas diversas passagem na história?  Quanto mais conhecido, mais amado ele seria.

Todo homem precisa de amor eros. É claro que o primeiro passo é descobrir-se, e no momento certo poderá dar inicio a essa maravilhosa descoberta. Precisamos compreender como somos constituídos. Adão esqueceu-se disso. Esse pode ser o inicio de uma série de discussões sobre esse tema que, semanalmente, poderei postar aqui.

Como preservarmo-nos de tais devoções degenerativas?


¹CALVINO, Juan. Instituición de la Religión Cristiana. Tomo 1, Cap. III, p. 7,8; Cap. IV, p. 10. Felire - Fundación Editorial de Literatura Reformada, 5ª edición, Barcelona, España (texto traduzido).
² Djavan, Meu bem querer. Disponível em: http://letras.mus.br/djavan/45536/